28 outubro 2009

A esquizofrenia dos nossos tempos

Goze, goze, goze!
Você tem que gozar o tempo inteiro.
Não, isso não tem nada a ver com o assunto sobre o qual estou escrevendo.
Tem mais a ver com Lacan e a Indústria do desejo.

Por fotos, por vídeos, por depoimentos você precisa gozar.
Precisa mostrar o quanto é moderno e o quanto curte a vida.
O mais difícil é olhar para essas pessoas e ver alguém lá dentro angustiado e sozinho.
Sozinho não no sentido bom da solidão.
Mas no sentido de não ter, realmente, nem sequer um amigo de todos aqueles que sorriem juntos nas fotos.
Sozinho de não ter pra quem ligar, pra quem escrever, a quem buscar.

Queremos as coisas. E temos.
O problema é que não existe o carro de todos os carros. Sempre, e logo, vai ter um carro mais potente.
Não existe o celular de todos os celulares, ou o computador de todos os computadores, sempre vai ter um mais avançado.
E, sim, não existe a bunda de todas as bundas. Sempre vai ter uma bunda mais gostosa.

Percebe a angustia? A minha, a tua, a nossa?
Isso não tem fim.
Não acaba.

Goze, goze, seja feliz no trabalho e com os amigos.
Tenha dinheiro pra sustentar o seu gozo.
Sua casa e sua família feliz.
Goze sua felicidade conjugal e sexual.
Seu carro do ano e seu smartphone.
Goze os prazeres do seu corpo perfeito e do seu sucesso profissional.
Você tem a bunda gostosa do momento, pelo menos por enquanto.
Agora goze o prazer de todo mundo saber disso antes que tudo fique obsoleto.
Sim, a angustia do novo mora ao lado. Então goze rápido!

Goze, goze, goze!
Você tem que gozar o tempo inteiro.

17 outubro 2009

beijinhos e abraços

Eu moro com dois cozinheiros. Tudo aquilo que na cozinha não me apetece como panelas, louça para lavar, sujeira...para eles é diversão.
A Beta nos últimos tempos teve um surto compulsivo e resolveu preparar pratos deliciosos e lindos.
Se eu sonho (e eu sempre sonho) com estrogonofe com arroz e batata palha, basta eu voltar do sol e ali está.
As fotos são uma das provas do que eu tenho passado esses dias.
E ela ainda coloca do lado das minhas frutinhas indefesas.

Entendeu a proposta de Boa Forma?
Ao invés de comer esse pratinho de branquinhos, ou beijinhos, você pode comer 15 maçãs e 19 pêras.
Entendeu?
Pois é.
Agora escolhe.
:)

16 outubro 2009

meia-primavera

E essa é a primavera que eu insisto em chamar de minha desde setembro.
E eu não me faço de rogada.
Saio na chuva (sem guarda-chuva), mas de bota e lenço e casaco.
Tomo sol, quando este sai e sinto ele quase dourando meu rosto.
Quase.
Um dia de pernas de fora e no outro de gorro e capuz.
"Não há saúde que agüente" me diz a senhora ao escolher pêras.
"No meu tempo havia quatro estações no ano"
Me dá vontade de dizer:
- Esse é o seu tempo, minha senhora. A senhora está viva. Esse é o seu mundo. Não há outro.
Mas não digo.
Já faz um tempo que falo pouco e observo muito.


Se eu tivesse que dizer qual foi o período mais feliz da minha vida, eu diria, sem medo de errar: os últimos doze meses.
Por quê?
Foi quando eu desisti de tentar ser feliz. Desisti de acertar.
Foi quando eu mais dei risada de mim mesma e dos outros, claro.
Estou ainda mais sádica.
Sádica e contente.
Então eu insisto em olhar pela janela e ver a primavera:
Há uma alegria sossegada no ar com metade de frio, e a vida, ao sopro leve da brisa que não há, tirita vagamente do frio que já passou, pela lembrança do frio mais que pelo frio, pela comparação com o verão próximo, mais que pelo tempo que está fazendo.

12 outubro 2009

A moda de hoje e o cinema de ontem

Eu fico pensando o que inspira a cabeça dos estilistas que fazem a moda acontecer no mundo.
Não, eu não sou uma pessoa "fashion" ou "tendência" em termos de moda.
Tenho um jeito bem particular de me vestir.
Às vezes gosto de make pesado e um look masculino, como gravata por exemplo.
Outras prefiro make leve salto fino e modelão.
Acho tudo a ver mulher usar gravata. Homem? Legal também, mas prefiro mulher.
Gosto de pegar uma ou outra coisa da moda que tem a ver comigo.
Ombreiras, por exemplo, não uso nem por uma cobertura com piscina de frente pro mar.

Como entendo muito mais de cinema que de moda e tava assistindo um filme de 74, do diretor alemão Fassbinder, percebi o quanto já tinha visto o estilo do filme em ensaios de revista e desfiles.

Martha é uma mulher alta, seca e muuuito branca.
Tanto que, quando tenta arrasar no bronze pro maridão, vira tostex pimentão. Luxo de horror.

Mas o que eu queria falar é desse estilo de make dos anos 70 que está de volta, bem presente no filme.
Pele pálida, nada de sombra ou lápis, muito curvex ou cílios postiços mesmo (tem que ficar com aquela cara da boneca Emília) e batom vermelho bombeiro.

A expressão, claro, é de inconstância e fragilidade.

Abaixo fotos do último desfile da Miu Miu em Nova York (2009) super inspirado no Fassbinder:

Aqui foto do filme "Marta"(1974)
Apesar das sombrancelhas serem finíssimas, eu não ouso arriscar que isso seja tendência.
Acho sombrancelha fina o fim da várzea.

Fora o make, todos, eu disse todos os looks do filme "Martha" são muito atuais.
Ah, o cabelo é uma coisa bem passarela, ou seja, nem em casamento o povo arrisca.
E tem mais, mulher ousada costuma ter cabelo curto, não fica horripilando no penteado.

Dá uma olhada no vestido da Martha nessa cena do filme. Super usável:


Nesse aqui pantalona no branco total com mangas bufantes e gola em laço. Super usaria. Tirando o batom, né? Tô longe de ser branca. Embora esteja faltando uns dias de praia no meu corpo. E o batom que mais gosto é esse do layout do blog mesmo.

Gosto da dançinha deles.
Filme de arrrrrrte, né amor?
Não é pra entender.

libertando a criança que ainda existe em você


Quase não dá pra ver mais?
Tá muito longe?
Ou é como no meu caso: foto da foto ao invés de scaneamento?
Te liberta dessa sina de ser perfeito, sério e adulto.
Te deixa errar.
Cair e levantar.
Brincar. E rir dessa tua cara anos 80...
beijo em todos amigos que como eu não cresceram e mesmo assim estão cheios das responsabilidades. Sem medo de não errar :b

07 outubro 2009

Para-te-quieto!

Queria dizer tanta coisa que não fui capaz de dizer nada.

A Beta me disse: "...já tá na hora dessa guria ter o que merece"

E eu não consigo fazer nada.

Fico pensando na meditação: "...e quando alguém tentar lhe magoar, ofender, ou lhe deixar tenso, irritado, imediatamente acontecerá algo dentro de você que lhe tornará flexível, tolerante, calmo, utilizando toda sabedoria e tolerância que vem do seu criador..."

OK!
OK!

estou muuito aquém dessa pessoa com traumas de infância, embora eu não incomode ninguém com os meus!

Porém, espero serenamente que ela não cruze meu caminho nos próximos seis anos. Ou eu cometerei coisas inpublicáveis.

Não a vejo por perto. E a grande sorte é dela.
Me mantenho flexível, tolerante, calma e utilizando de todo discernimento...

AMÉM.