30 janeiro 2011

Sofia em Hollywood



Não sei dizer o real motivo de ser apaixonada pelos filmes da Sofia Coppola.
Talvez porque eles falem sempre de sentimentos que não cabem em palavras.
Cenas longas e vazias. Com uma trilha sonora sempre a confirmar que é isso mesmo. Não tem jeito

Entendi perfeitamente minha identificação com Lost in Translation.
Estava eu, não em Tokio, mas em São Paulo, na mesma situação da deslumbrante Scarlett Johansson.
Casada, numa cidade cheia de acontecimentos e convites e lugares e luzes. E sozinha.
O cenário era de que tudo poderia acontecer. E nada acontecia.
Eu, além disso, menos diva e sem Bill Murray.

Mas Somewhere nada tem a ver com minha vida. E tudo tem a ver.
Sofia joga na nossa cara exatamente aquele nada que somos em qualquer circunstância. Aquele pouco caso que fazemos de que o que queríamos mesmo era ter uma vida convencional. Dessas de se namorar, andar de mãos dadas. Casar. Cuidar de alguém. Ser cuidado. Quem sabe ter um filho e tomar chá com ele no fundo da piscina.
E isso não impede que nossa trilha sonora seja Strokes e Foo Fighters. É o básico sem ser careta.
Seja onde for.

27 janeiro 2011

homenagem à cidade que eu vivo e amo

Uma grande amiga me falou uma coisa esses dias, junto com mais um monte de coisas que ela fala e ri e gesticula (e eu adoro essa maneira inteira dela ser).
Ela  me disse que atraímos as pessoas de acordo com nosso estado de espírito.
"Eu só atraio gente bonita, Ju" (e ela estava falando de estética).
E eu nunca tinha visto a vida assim, por esse ângulo.
Pensei que não invadimos a vida de ninguém. Simplesmente são aquelas pessoas que representam quem você é naquele momento. Somos espelhos dos outros.
Alguns ficam. Duram anos. Tem gente que vai embora.
Outras encontramos ao acaso, transformadas. O nosso avesso.
Mudaram? Mudamos?
Não importa. A vida segue.

A cidade é seca. É blasé. E é fascinante.
São Paulo buzina nos seu ouvidos que você precisa trabalhar, precisa conhecer aquela galeria, aquele bar, aquele lugar, precisa ter as coisas!

Porque é isso, se você a quer, ela te evita. Se você evita, ela te pega.
São Paulo is my love.

16 janeiro 2011

Desilusão segundo C.L.

Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. Voltei a ter apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e assusta. Era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.

A idéia que eu fazia de pessoa vinha da minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? Estarei mais livre?

Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. Mas por que não me deixo guiar pelo que for me acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.

Sei que precisarei tomar cuidado para não usar uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como capim, e a essa perna protetora chamar de "uma verdade".

15 janeiro 2011

Disseram que ela não vinha...

Eu também duvidei. Mas ela veio.

E enquanto Amy estiver em solo brasileiro vai ter jornalista de merda dizendo: 'Amy com peito de fora', 'Amy xingou fã', 'Amy bebeu um martini', 'Amy bebeu uma cerveja'...

E eu digo jornalista de merda porque sei, com conhecimento de causa, que até em revista de fofoca pode-se ter dignidade.

Mas o que acontece é que Amy foi o grande acontecimento musical da última década. E não tem bandinha indie, algumas que eu até gosto muito, e nem bandinha pop que desbanque isso.

Amy tem um puta talento. Talento reconhecido por público e crítica.

Ela pode ser excêntrica, perturbada, viciada, doida, alucinada. Agora me responde: quantas pessoas que você conhece que são exatamente isso e não desenvolveram um décimo do talento que ela tem?

Acontece que não se chuta cachorro morto. Se tem muita gente deixando a pele e o corpo horríveis em função de vícios, isso não interessa a ninguém.

Mas se é alguém com letras autobiográficas, com um senso musical incrível, com uma voz fabulosa, e que estorou nós últimos anos, tem quem se interesse.
 Amy veio. Está bebendo água. Terminando os shows. E quem se importa se em alguns momentos quem assume os vocais são os backing vocals. Eu não.

Pois se você se importa, não vá ao show. Se guarde para o show do U2, do Iron Maiden, do Ozzy Osbourne, do Roxette.
O que não faltam são shows em São Paulo esse ano. E o que não faltaram foram notícias de Amy nos últimos dois anos mostrando exatamente como ela é e do mal que sofre.

Já escrevi uma vez isso: não deve ser fácil ser brilhante. Porque ser mais um já é tão difícil.
Por isso não condeno Amy. Mesmo fazendo músicas em estilo mais reggae (e eu ODEIO reggae) ela continua foda. Então, é mais fácil dizer: 'ela é uma viciada'.

Ser viciada por ser mais um é sinal de fraqueza. Ser viciada por ser brilhante é sinal de que ela é humana.
Que Amy se salve.

Amém.

09 janeiro 2011

MOOD

Não precisamos estar felizes para experimentar um instante de leveza. Em vez de mostrar alegria quando não há motivo algum para isso, dê-se uma pausa. Não force um sorriso. Em vez disso, olhe em volta e enxergue de verdade o que vê. Observar pessoas pode por fim à tristeza mais rapidamente que tomar um remédio. A joie de vivre, afinal, foi inventada pelo mesmo povo que nos deu a moda básica e os cafés ao ar livre.

(Veronique Vienne, em A arte de viver o momento)

Você só precisa ser leve e forte.

07 janeiro 2011

Machista, eu?

O mundo ainda é machista? Claro que é. E numas coisas que não deveria ser, mas é.

Homem de bengala = charme
Mulher de bengala = manca

Homem grisalho = charme
Mulher grisalha = relaxada

Homem com rugas ao sorrir = charme
Mulher com rugas ao sorrir = pés de galinha

Homem com barriga = fora de forma
Mulher com barriga = gorda

O mínimo que o homem deve fazer é pagar a conta, carregar às malas, ser cavalheiro.
Só falta me chamarem de machista...

03 janeiro 2011

olhar estrangeiro



Nunca me importei de não ter a sensação de pertencimento.
E eu não pertenço a nenhum grupo de amigos, a nenhuma religião, a nenhuma cidade, a nenhuma seita ou filosofia.
Não sou rata de praia, nem de academia. Corro sem ser maratonista. Leio sem ser intelectual.
Faço parte do mundo. É pouco?

Não me importo de viajar sozinha, almoçar sozinha, beber um drink sozinha. Ficar sozinha mesmo.
Estar só é falar menos e observar mais. Observar me ensina.
A questão não é só essa. É poder manter meu olhar estrangeiro nos grupos formados.
Gosto de verdade de não pertencer pra não ter o maior problema em deixar o lugar, qualquer lugar.
Ir embora sem grandes despedidas sabendo que pra onde quer que eu for meu olhar não terá vícios.

Vez ou outra admiro e até invejo a cumplicidade dos grupos. Daí, logo me entedio.