16 março 2011

Primeiro eu

RT @FrasesDeClarice: Respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você.

Nunca respeitei tanto. Não é fácil, porque temos que bancar essa escolha. E isso inclui e exclui pessoas.
Na real, é bem difícil.

Quase uma obviedade

Elogiado e odiado quase que na mesma proporção, Cisne Negro foi pra mim como a vida: um soco no estômago.
Fui assistir sozinha, à noite, no Shopping Higienópolis. Voltei a pé pra casa sem conseguir dar um parecer do filme. Não sabia até que ponto o estilo do diretor me incomodava, e nem até que ponto isso era uma fuga para admitir o tapa na cara que eu tinha levado. Sim, depois do soco, veio o tapa. E não parou por aí.
Os bons terapeutas não cobram caro porque temos vergonha de confessar que estamos sofrendo, mas sim porque temos vergonha de confessar o real motivo. Caso contrário, o ombro do amigo bastava. Sofrer todo mudo sofre, mas poucos admitem o porquê. Até para curarmos nossas mágoas somos covardes e orgulhosos.

Pois eis que surge diante de mim a quase obviedade de Cisne Negro. Tão lugar comum que o beijo lésbico ocorre entre duas mulheres lindas e heterossexuais.
E eu demoro um mês para escrever sobre ele. Cisne Negro me deu uma surra. Como o primeiro dia de massoterapia. Depois da surra vem a real.

A técnica sem a malícia. A beleza sem sex appeal. A experiência sem o jogo de cintura.
Numa discussão sobre beleza, numa reportagem que fazia, uma modelo dizia: "é duro para mulher bonita envelhecer", no que uma jornalista retrucou: "duro é não ser bonita nunca, minha filha". E a psicoterapeuta salva: "duro é não se sentir bonita. Pior, nunca usar isso a seu favor".
E eu, leiga em assuntos variados, também quero falar: "difícil é envelhecer com dignidade".
Não é o que a mãe do cisne faz no filme. Envelhece cheia de recalques precisando de alguém para apoiar sua frustração. Ninguém que se apoia noutro para viver pode ser bonito.
Claro que também concordo com a jornalista em questão (que não sou eu), mas duro mesmo é não usar aquele algo mais que só vem depois de um beijo, depois do sexo, depois do quinto gole de vinho, depois de seduzir (e aqui leia-se infinitas formas dessa prática).

E quem não usar - e raros são os cisnes negros - vai ficar sempre imaginando fantasmas maquiavélicas que querem passar ela pra trás, colocando defeito no modo de agir de todas as outras, tentando matar a inimiga, quando, na verdade, o óbvio acontece.
Acontece e, claro, você morre no final. E morre feia.