31 março 2008

eu não sou da sua rua


Quando criança eu tinha como tarefa básica diária passear com uma cadela piquinês que havia encontrado na praia de Xangrilá, onde meus pais tinham uma casa de veraneio.
Quando a encontrei rezei como louca pra que jamais encontrássemos os donos. E foi o que aconteceu.
Seu nome? Pupy.
Um nome assexuado. Afinal a veterinária acabou com meus planos de filhotes quando me assegurou que ela era castrada.
Passeava feliz da vida com aquela cadela bizarra de cara achatada que, além de ser avançada na idade, era manca da pata traseira. E claro, como toda piquinês, não era nada sociável. O tipo de cachorro que criança não deveria jamais passar a mão. Rá! Ela era o máximo.



Nossos passeios eram incríveis.
Até hoje, sempre que tenho que chegar a algum lugar escolho o caminho mais bonito.
Nem sempre é o caminho mais curto e nunca me importei com isso.

Morei toda a minha infância e adolescência na conhecida Avenida Nilo Peçanha de Porto Alegre. Conhecida, na verdade, de uns 15 anos pra cá. Sim, queridos, província também cresce.
O legal era que atrás da minha rua tinha um bairro com casas fantásticas, quero dizer (com toda minha inocência infantil): casa de dois andares!
Elas tinham jardins lindíssimos, e pouquíssimas tinham muros ou portões. Me maravilhava e ficava imaginando no dia em que moraria em uma casa como aquela...

O tempo passou. Pupy morreu. Os muros subiram e os portões se fecharam. Alarmes, porteiros e grades elétricas pareciam ser poucos para conter a violência urbana. Para completar escolhi uma grande metrópole para morar.
O sonho pueril mudou. Tenho idealizado coberturas. Quanto mais alto melhor.
Porém, sigo escolhendo os caminhos mais bonitos.

25 março 2008

QUIMERAS

eu e betina chegamos cedo
foi apenas uma janta descontraída no filial
roberta,que estava sozinha, diminui o volume do som que estava, até então, ouvindo
conversamos, rimos
porém, vivemos em um mundo moderno, logo
cada uma se colocou à frente de seu PC e com olhares compenetrados encerram qualquer diálogo que não seja o escrito
a música vinha suave lá da cozinha
uma mistura de música árabe indiana com traços de mantra hare krishna
hesitei, tive que comentar:
- Que música é essa?
Roberta, sem hesitar:
- Olha, Ju, tu sabe muito bem que esse CD nunca foi meu!
Tiro os olhos da tela do computador por alguns instantes, olho pro chão,
e logo retorno para meu mundo virtual
.....
Seguimos ouvindo o disco até o fim sem demais comentários.

24 março 2008

destemperança

era como andar em zigue-zague na estrada
como não pensar
desistir
se iludir de não haver qualquer razão

não havia espera de coisa alguma
não havia pensamento, tão pouco arrependimento
e uma ausência total de expressão
era um ir sem intenção de fazê-lo
um se despreocupar por completo, sem vacilo

como deixar cair das mão sem nem ao menos largar

22 março 2008

19 março 2008

are you happy?

a palavra felicidade não existe na língua hebraica.


existe apenas a palavra alegria.


pensando bem, isso torna a vida bem mais fácil.


é como se contentar apenas com as alegrias diárias, deixando um pouco de lado essa idéia do "pacote completo" felicidade.


sim, porque FELICIDADE é uma palavra grande, e envolve muita coisa e muita satisfação.


que alguém já a alcançou eu não duvido, de repente até eu, mas acredito que num todo, as alegrias são mais recorrentes e menos óbvias, menos viciantes.

pensando bem, a felicidade é uma chatice!
é um comercial de margarina em câmera lenta.
com licença, "vou estar preferindo" a vida real!

12 março 2008

sobre a brisa que não entrou pela janela

é inevitável, quando temos uma sessão de terapia, que fiquemos algumas horas divagando sobre o que nos foi questionado
acho que as infinitas máscaras que usamos, nas diferentes situações da vida, tornam muito difícil saber quem afinal somos.
e veja bem,
não tenho absolutamente nada contra essas máscaras, pois acho que sem elas, a convivência seria estranha e quase insuportável.
acontece que vai ficando difícil de a gente se perceber pelo fato de estarmos tão ligados à impresão que queremos passar, a impressão que estamos causando e a preocupação de não causar uma má impresão...UFA!
e no meio de tudo isso perceber quem realmente somos, o que queremos, ou pelo menos o que não queremos.

......
no meio de toda essa confusão comecei a pensar o que faz com que uma pessoa se apaixone por outra.
claro que fica bem mais fácil analisar aquilo que NÃO apaixona.
mas a questão, pelo menos pra mim, é muito simples: nos apaixonamos por aquilo que buscamos ser. nos apaixonamos por nós mesmos melhores.
seja em que aspecto for...
profissional,
físico,
intelectual, emocional ou ainda de personalidade.


nossa...woody allen que se cuide!
o que uma noite quente não faz...

10 março 2008

intervalo sem dor

Houve tempo em que me irritavam aquelas coisas que hoje me fazem sorrir.
Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência delas.
Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento que tinha consciência.
Vivemos de impressões...?

09 março 2008



...e nem todas seguem os padrões
nem todas atingem o mais alto grau numa escala de valores
há mulheres lindas
e tão humanas
tão humanas que chega a dar dó
e elas só querem ser felizes
e ser perdoadas pelos padres da igreja
porque o amor delas é verdadeiro
assim como o sexo
e assim como o desamor
...e não há contentamento que não se encerre em si.
e não há amor verdadeiro que acabe.

07 março 2008

beijo, me escreve

se quiser se distrair, ligue a televisão

amor, comigo não

desassossego

A análise sobrecuriosa das sensações - por vezes das sensações que supomos ter...
sempre que as sinto, desejaria, exatamente porque as sinto, estar sentindo outra coisa.
Geralmente, procuro estudar a impressão geral que causo nos outros, tirando conclusões.
Em geral sou uma criatura com quem os outros simpatizam, com quem simpatizam, mesmo, com um vago e curioso respeito.


tem dias que acordamos e ficou faltando uma coisa na noite anterior. ou foi demais
ou foi de menos, não sei.
só ficamos com a impressão de uma obra inacabada. um sorriso não aberto, um beijo não dado, uma meditação não aprofundada...

04 março 2008

quando as coisas acabam

surgiu
em pé em cima do telhado
não estava nua
vestia a parte de baixo de uma lingerie branca e gasta
e calçava tênis amarelos sem meias ou cadarços
gritava:
- e você?...hein? você não passa de um grandissíssimo babaca!
parecia trazer um vestígio de maquiagem preta nos olhos
- um canalha...você não passa de um canalha!
se abaixou, como pra se sentar, e buscou algo com as mãos
não pude ver direito
mas parecia com um velho tapa-olhos
seu único vício (diria a própria)
escuro absoluto, on the rocks
foi a última vez que a vi

fim

desassossego no SOSSEGO