06 fevereiro 2012

Junto os pés encolhendo os dedos na tábua de salto. O brilho do sol seria o suficiente para me impedir de reconhecer cada rosto que me fita da arquibancada. No entanto, identifico cada um, mesmo sem olhar diretamente para ninguém. Todos os meus monstros estão presentes. Ousarei pular quando já passou o tempo de pular?

Aproximo ainda mais os pés da ponta. Nada, nem desistir a essa altura, faria eu mudar a opinião sobre mim mesma. Há dias padeço pela decisão tardia do salto. Ainda assim, abandonar o lugar apenas adiaria mais uma dor.

O silêncio encobre tudo. Ouço o barulho do meu próprio coração. Nada mais pode me salvar e, sendo assim, me sinto forte. Alguma coisa depois disso remediará meu desespero. Por um momento me sinto o mundo.

A única nuvem do céu encobre o sol. Sou tão pequena e, ao mesmo tempo, pesada demais para a situação. A água sempre esteve assim tão longe? Desisto de pensar por alguns instantes. É inutil, eu penso mesmo assim. 

Ouço o primeiro apito. No segundo devo saltar. Tudo isso pra no final morrer? Toda essa angustia para em nenhum momento se ter certeza de coisa alguma? Sinto uma gota de suor escorrer do couro cabeludo até a orelha direita. Cerro os punhos e, com força, abro novamente as mãos. Respiro fundo com dificuldade.

Eu poderia rezar, pedir, gritar e minha voz seria inaudível. O caminho é único, estreito, inseguro. Vai abrir mão dele? Pode abrir.

Onde andará minha mãe agora? Fugi dela assim como de seus conselhos a vida toda e, de repente, queria seu pessimismo crônico por perto. Talvez ela sentisse orgulho. Talvez fotografasse e depois mostrasse para uma amiga.

Ouço o segundo apito. Então, me solto de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto, com um otimo tempo e uma mecanica muito boa.
Sobre o conteudo eu acredito que nada nessa vida é irreversível.
A duvida anda junto durante o tempo todo. Mas não somos obrigados a pular no vazio (ou na agua tão distante) deixando o resto na prancha la em cima.
Parabens pra ti.