Nesse crepúsculo das disciplinas, em que as crenças morrem e os cultos se cobrem de pó, as nossas sensações são a única realidade que nos resta.
Pertenço a uma geração que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro. Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra casa.
Não somos talvez muito diferentes daqueles que, pela vida, só pensam em divertir-se.
Convalescemos.
Estranhos a convívios demorados, aborrecemo-nos em geral dos maiores amigos.
Não sei se isso indica pouca amizade. Por ventura não indica.
O que é certo é que as coisas que mais amamos, ou julgamos amar, só tem o seu pleno valor real quando simplesmente sonhadas.
Sem habilidade para amar, quase nos cansam aquelas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado.
De resto, qual de nós quer ser amado?
A própria idéia de sermos amados nos fatiga.
A minha vida é uma febre perpétua, uma sede sempre renovada.
Um comentário:
É interessante quando nos deparamos com alguém totalmente desconhecido e que, numa primeira impressão, sabe exatamente do que estamos dizendo. Essa sede existencial de tão arraigada chega a ser confundida com desistência. O que algumas pessoas não entendem, não fazem idéia, é que algo muito maior está dentro de nós - os sensacionistas -, e nos consome de tal maneira que até a idéia de sermos amados nos causa cansaço. Eu entendo a sua sede. Você entende a minha intolerância. E nisso, sem ao menos fazermos idéia de quem somos, nos tornamos afins, mesmo que nunca venhamos a nos aborrecer uma com a outra, visto que a condição de "maiores amigas" está longe de nossa realidade.
Agora é a minha vez: que bela observação!
Comentário interno: fico extremamente satisfeita quando escrevo alguma coisa, qualquer coisa vista a olhos nus, onde apenas meia dúzia de pessoas entende efetivamente do que se trata. Você é uma das seis...
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