16 outubro 2009

meia-primavera

E essa é a primavera que eu insisto em chamar de minha desde setembro.
E eu não me faço de rogada.
Saio na chuva (sem guarda-chuva), mas de bota e lenço e casaco.
Tomo sol, quando este sai e sinto ele quase dourando meu rosto.
Quase.
Um dia de pernas de fora e no outro de gorro e capuz.
"Não há saúde que agüente" me diz a senhora ao escolher pêras.
"No meu tempo havia quatro estações no ano"
Me dá vontade de dizer:
- Esse é o seu tempo, minha senhora. A senhora está viva. Esse é o seu mundo. Não há outro.
Mas não digo.
Já faz um tempo que falo pouco e observo muito.


Se eu tivesse que dizer qual foi o período mais feliz da minha vida, eu diria, sem medo de errar: os últimos doze meses.
Por quê?
Foi quando eu desisti de tentar ser feliz. Desisti de acertar.
Foi quando eu mais dei risada de mim mesma e dos outros, claro.
Estou ainda mais sádica.
Sádica e contente.
Então eu insisto em olhar pela janela e ver a primavera:
Há uma alegria sossegada no ar com metade de frio, e a vida, ao sopro leve da brisa que não há, tirita vagamente do frio que já passou, pela lembrança do frio mais que pelo frio, pela comparação com o verão próximo, mais que pelo tempo que está fazendo.

2 comentários:

Olavo disse...

Quem lhe disse que eu era

Riso sempre e nunca pranto?

Como se fosse a primavera

Não sou tanto

No entanto, que espiritual

Você me dar uma rosa

De seu rosal principal".

Linda, Ju, sua meia-primavera tem as cores do amor, da dor, do ser e do viver. Daqui posso sentir seu perfume... Orquídea rara.
Com respeito e admiração,

Pattiê, disse...

Ju, mais uma vez a sintonia: essa primavera também é minha!

Adorei o post.

Beijo